segunda-feira, 28 de março de 2011

Caio F. pra variar


"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "

É o que me diz as tuas entrelinhas

A viagem foi longa e intensa, mas nenhum segundo se repetiu, nenhuma palavra se perdeu, nenhum olhar se ignorou. Mas o dia amanhece, a hora de fazer as malas um dia chega, e juntamos do nosso ninho tudo aquilo que achamos que tivéssemos perdido no fundo de algum armário pela madrugada, por julgarmos não serem necessárias comparado ao que tínhamos. Mas hoje revemos tudo o que sobrou, todos os pedaços, todos os cacos de vidros, escritas, todas as lembranças e friezas. Então as guardamos. Seguramos firme essa mala de passado recente da mesma maneira que gostaríamos de segurar firme nossas lágrimas.
Respiro fundo e subo no primeiro trem, sozinha é claro, já que não podemos ser companheiros quando não sabemos aonde descemos.

17:40

Segunda-feira
“Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."
/E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer./


/Você acha que o nosso amor pode fazer milagres? - Eu acho que o nosso amor pode fazer tudo aquilo que quisermos. É isso que te traz de volta pra mim o tempo todo./


/Não importa quanto vá durar – é infinito agora./


/O nunca mais de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter nunca mais de se ter quem morreu. E dói mais fundo - porque se poderia ter, já que está vivo(a), mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: nunca./


/Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis./


/Meu coração tá ferido de amar errado./


/Acho espantoso viver, acumulando memórias e afetos./


/É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado./

/Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível./


/Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém./


/Acontece porém que eles não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las./

Ele

Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, mas eu diria medo, corvadia.

Caio Fernando Abreu